Sierra Morena

Sim, eu confesso: é um diário. Ah, eu posso ser um pouco bobo se quiser, não é? Além do mais, não sei se alguém vê o que vejo no cotidiano. Vejo tanta coisa, qua faz pena deixar ir. Guardo então cá, essas impressões da minha vida. Afinal, uma aranha que parece jóia, é uma jóia de fato...

14.6.07

Basset Hound: busca mística...



Depois de algumas horas esperando minha vez fui chamado pela ajudante de Madame Zoraida.

- Boa noite - disse a cigana com seu sotaque forçado.

- Boa noite, Madame Zoraida - respondi sentando na cadeira.

Uma mesinha, com uma bola de cristal, toalha estampada, tudo meio escuro, meio iluminado...

- Enton, como posso ajudar-te?

- Madame Zoraida, preciso de um basset hound.

- Basset?

- Sim, um basset. Aquele cachorro...

- Non precisa dizer nada - interrompeu a mística mulher de roupas de cetim vinho - Madame Zoraida tudo sabe, tudo vê... Deixa que veja cá em mia bola de cristal... Bola de cristal, bola de cristal, revela o que quer esse rapaz...

Espantado com a aura mística de toda aquela cena, e ainda sentido pela soma de dinheiro que me custava aquela consulta, esperava atônito uma resposta.

- Un basset!

- Sim... ?

- Tu quieres un basset, certo?

- Sim! Isso mesmo!

- Deixe-me ver... Meditanto, meditanto... bueno... tu quieres un basset rubon...

- Hound...

- Isso, isso! Rondio...

- Mas a senhora é mesmo um pessoa mística. Já adivinhou o que estou procurando a dias!

- Si, pois io soi Madame Zoraida.

- E como consigo 0 tal basset? Consulte sua bola de cristal, e me diga. Estou aflito já!

- Si, como non... - e pôs-se novamente a mexer na cristalina esfera videntificadora. E depois de muitos gestos que me impressionavam cada vez mais ela fez silêncio. Sua expressão era de desalento.

- Então Madame?

- Non, no hai basset.

- Como assim? "No ai"?

- Sinto, but não posso encontrar-te este perro. Sinto...

- Mas como assim? Pensei que Madame Zoraida respondia a todas as questões, que via o passado, o presente e o futuro. Pensei que pudesse responder as mais irrespondíveis questões...

- Venga cá.

A mística chamaou com o dedo. Fiquei mais perto.

- Me achas com cara de Google? - recostou na sua cadeira e acendeu um cigarro.

Não me restou nada mais a fazer ali. Ai, quanto tempo mais duraria minha busca incansável pelo orelhudo e atarracado canídeo... Nem sabia, desconfiava, que minha saga estava bem no começo...

* * *

1 Comments:

At 4:36 AM, Blogger Unknown said...

Amei esta foto! Ai não é lindo? E a nossa cara...rs...Te Amo!

 

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