Era uma vez... uma das minhas quartas
Vale registrar o dia de ontem. Dia cheio, atarefado, cheio de novas. E sem perder tempo vamos falar da manhã, quando fui dar aula extra no Criar, para a 8ª série. Não sei por qual motivo desconfiava que ia ser uma aula estressante. Propus fazer uma capa pra abrir o trimestre (capas abrindo o trimestre dão organização ao caderno). E lá fomos nós desenhar bonsais. A sala toda em fileirinha. Gosto de salas em fileira. A turma se animou bastante com os tais bonsais. Uma ou outra menina ficou com medo de desenhar (mal terrível esse), mas se você insiste elas vão traçando, riscando. Uma coisa que é comum em todos é não usar o espaço direito. Ocupam apenas parte do campo delimitado para o desenho. Parece ser timidez gráfica. O que é triste, pois são eles uma geração envolvida em imagens. E nesse mundo de tantas imagens eles são tímidos, e desenham tão pequenininho os bonsais... Tudo com medo de errar, e se o desenho for muito grande o errro também será grande. Tinha planejado também uma atividade sobre a China. Começar a estudar o livro, resolver (se é que isso é desejável) algumas questões. Mas o tempo foi envolvendo tudo só com os bonsais. Assim a manhã foi nessa direção... Só para registrar, voltei pra casa, comi muito requeijão, li o jornal (triste pelo estado lastimoso da política no Rio), imprimi o texto final da minha monografia, alguns artigos sobre corpo e educação (acabou a folha antes de terminar o terceiro). E sem almoçar fui a casa de um amigo tratar do site do encontro de jeep aqui em Rio Bonito. Fui animado para ver meus e-mails. Ganho um e-mail de K Lepdóperos (fora lá pra isso) e posso descer mais leve.
A tarde me pega na van. Teria que esperar bastante pela van para Niterói, mas o motorista da van que sairia logo para o Rio era freguês e amigo do meu irmão. O ar condicinado que iria refrescar a viagem foi consertado pelo meu irmão. Me cobrou o preço da van de Niterói. Encontrei dentro da van a minha "tia doidinha", como diz minha mãe. Tia Nenesa, a caçula da prole de 12, dentre as quais minha mãe. Havia comprado pilhas recarregáveis para meu Mp3 player, mas as pilhas vieram sem carga. Tentai ler meu livro ("Irmãos Karamazov", Dostoievisk), mas estava em jejum, e ler numa van em jejum dá naúseas... O carro foi, eu dentro dele. Fui assim até o shopping de São Gonçalo, e neste ponto desci (peguei uma van pro Rio, paguei passagem para Niterói, mas acabei descendo em São Gonçalo). No shopping almocei um filé (que não era filé de verdade) à parmegiana (que não era molho a parmegiana de verdade) com batata frita (desconfio que nem a batata era de verdade) e arroz (esse sim de verdade). Almoçado toquei para a faculdade. Vamos agora procurar o orientador. Não chegou ainda, espera, espera, espera... Abro o livro, entro dentro dele, e assisto Dimitri Karamazov e seu pai Fiodor em uma discussão viva, raivosa, cheia de ódio... Uma menina me interrompe.
Me encontra Nathielle. Estava indo tão bem... Dimitri e seu pai quase se matando... aparece Nathille, e os dois abaixam as bandeiras. Ai! essa só mesmo Dostoieviski explica. Daí tudo que falo é mais ou menos ouvido, o que quer dizer também mais ou menos ignorado. E todos sabem que eu não ligo para nenhum tipo de injúria, ofensa, ataque, agressão... mas não gosto de ser ignorado. Dá trabalho criar borboletas na cabeça, ter sempre um sabiá larenjeira no ombro, andar montado num lhama amarelo, batizar estrelas. No mínimo o que se quer é não ser ignorado, nem mesmo mais ou menos ignorado. E como sempre, sou incapaz de sentir raiva dela. Se fosse outro alguém, provavelmente ia ter a "porva" como se diz na roça. Mas se até Dimitri e seu pai Fiodor Karamazov abaixaram o tom, que dirá eu que ainda olho pra ela com cara de bobo. Só mesmo Santana pra me salvar.
Apareceu o tal Santana, que me orienta nesta monografia que mais parece um parto de quadrigêmeos (quatro capítulos). Texto entregue, talvez a última revisão. E ele me fala as palavras mais doces que poderia ouvir neste ano: "vou ver no departamento a disponibilidade de horário para a apresentação". Data. Data... Data!!! Depois de anos sofrendo com essa maldição, pela primeira vez a apresentação aparece como possibilidade concreta, relacionada a um dado tempo que o relógio poderá medir sincronizando todo mundo. Desci as escadas que eram mais leves. Antes me despedi de Nathielle ainda com cara de bobo, e fui... Não embora. Há que encontrar os amigos. Esperei por Herivelton, mas este não deu as caras. Tássia sim, que muito animada me fez companhia. Combinamos sem combinar de aparecer mais. Sugiri escrevermos trabalhos juntos. Quis saber da contação de histórias na pracinha: "hora do conto". Por fim fui mesmo.
Cheguei em Rio Bonito, tinha até as 21:00 para chegar ao colégio Lygia qualquer coisa. Uns garotos que tinham saído da escola estavam zuando no ponto. O mais engraçado (na verdade o único palhaço) ia fazendo pregão com a cesta básica que carregava. Uma animação boa de ver. Quando o ônibus vem nem reparo que era o meu ônibus (embebido em pensamentos? em que pensava?). Uns dois garotos daqueles que subiram no ônibus e começaram a falar de Rio Vermelho, entrada da Mangueira. Ora, é pra essas bandas que eu ia! Fui ao cobrador e perguntei pra onde ia o ônibus... era o meu ônibus. Cheguei na escola e depois de brees contatos e apresentações conversei com o Henrique, que suponho ser coordenador pedagógico. Pauta: Escola Aberta e possibilidade de trabalhar com oficinas de contação de história. No final da conversa e depois da entrada em cena da diretora, combinou-se que ia começar a dar uma força sem ajuda de custo por hora, enquanto se ecerta os detalhes do trabalho, provavelmente acompanhando as garotada nas exibições de filmes que eles promovem. Depois acertaremos com as professoras da manhã sobre a contação. O fato é que terei um espaço pra contar histórias.
Assim: Era uma vez... uma das minhas quartas.